Era um Fiat 600 Branco,
Estas noites grandes e quentes de
Verão são excelentes para recordar o que já lá vai. Neste fim de semana e em
casa de uns amigos falávamos das nossas saídas, dos bares e das discotecas que
existiam.
Vim a lembrar-me das minhas
“aventuras” com uma amiga que conduzia um Fiat 600 Branco. Pequeno, ligeirinho,
arrumava-se em qualquer espaço. A coisa depois evoluiu para um Renault, um
Fiesta, um Nissan Micra e por aí adiante ….
As miúdas à sexta-feira iam jantar
em grupo ou sós, conforme calhava, mas o certo era passarmos invariavelmente
pelo Salsa Latina.
Mal o bólide apontava na
Imperatriz Dona Amélia, os nossos olhos não paravam para ver as matrículas e os
carros já estacionados. “Já está”, “ainda não chegou”, “deve ter vindo de
boleia”…. confesso que muitas das vezes ela perguntava-me “viste já o carro
estacionado”, e eu, não fosse a rapariga inverter a marcha rumo à rua do Til,
dizia convictamente “ está ali, já vi” , estaciona tu à frente, tens um lugar.
Mesmo antes de chegarmos ao
Salsa, já ouvíamos a música, os Salsinhas tocavam pela noite dentro, as nossas
músicas, os nossos hits, aquela que nos prendia o olhar e cortava a respiração,
aquela que nos fazia borbulhinhas na barriga, que nos corava, que nos deixava
os braços em pele de galinha.
Um dos músicos tinha uma relação
de amizade de longa data com a minha amiga, amigos de liceu e de matinés
dançantes em garagens, e a música quase que se tornava em “música pedida”, ele
tocava “You are so beautiful” do Joe Cocker e lá íamos nós para junto do balcão
de copo de Whisky na mão (copo fino e alto com muitas pedras de gelo), e
cantarolávamos pela noite dentro.
Não precisávamos de mesa, sempre
preferimos ficar de pé junto à banda ou na esplanada, encostadinhas a um
parapeito de uma janela. Eu gostava muito de ouvi-los cantar Rolling In The Deep, Creedence C R (Have you
ever seen the rain), Cat Stevens (Father and Son), James Taylor (you’ve got a
friend), Eric Clapton, Elton Jonh e não me esqueço nunca como ele cantava
e/ou imitava na perfeição a voz do Paulo de Carvalho.
Ficávamos para ali até às 2 da
madrugada (hora em que o bar encerrava), não seguíamos para a discoteca, porque
já nessa altura não eramos muito adeptas dos ambientes fechados.
Mas ninguém se esquece das
velhinhas Vespas em cima da Ponte do Ribeiro Seco, do Barbarela e do Bar On The
Rocks no final da Carvalho Araújo.
O Fiat 600 também ia para os
jantares do grupo ou por vezes ficava estacionado no Largo do Colégio, que era
o nosso ponto de encontro, escolhíamos restaurantes onde pudéssemos estar à
vontade e fazer barulho, no Restaurante do Poiso, na Camacha, era a Televisão,
o Regedor e o Café Relógio, no Caniçal íamos para o Bar Amarelo, no Porto Novo,
era a Feijoada por debaixo da ponte e em Camara de Lobos, o restaurante da
praia.
Quando íamos só as duas ou com
mais amigas, optávamos por uma Pizzaria que existia na Avenida do Infante, que
também tinha esplanada, chamava-se A
Rampa e escolhíamos uma pizza de nome “Diana”,
ou o Mama Mia no Restaurante Fora de
Horas, no próprio Salsa Latina (que servia umas lulas divinais) ou um de
grelhados na chapa que existia no terraço do Centromar e do qual não me recordo
o nome.
Este Fiat ainda foi do tempo em
que os portugueses recém - encartados ostentavam na traseira um dístico
indicador, circular de cor amarela e com a inscrição do número “90”. Isto
indicava ao condutor traseiro que conduzia um outro condutor com menos
experiência. Para mim ficava mais confiante, o aviso já estava feito, convinha
os carros não se colarem muito atrás e deixarem um espaço de segurança.
Eu ainda não tinha carta de
condução mas sabia muito bem ditar as regras e as prioridades, para evitar os
vermelhos e quando o sinal estava verde, era caminho a direito, mesmo que fosse
uma subida, dizia ”prego ao fundo”, quando tínhamos forçosamente de parar
porque o sinal estava vermelho e mudava para o verde, dizia, “para” “puxa o
travão de mão e arranca”, e depois era aquela coisa “passa, vem mais a direito,
para a frente, roda só a traseira, não dá, vai bater, pronto já está, para ….”
Aquele Fiat ainda nos levou a
rallies, para o Poiso, Terreiro da Luta, Monte, e durante uma serie de anos transportou-me
todos dias, na hora do almoço, quando vinha a casa da minha mãe.
À condutora do Fiat devo a minha
pontualidade de hoje, nunca respeitei os horários, era sempre uma pessoa super
atrasada, até um dia que me meteram na linha…
Devo à condutora do Fiat muitos
anos de uma boa conversa, de um bom ombro amigo, de boas gargalhadas, de
alegrias, mas também de algumas tristezas, angustias e de lágrimas nos piores
momentos.
Ficam e morrem connosco histórias,
confidências, partilhas de momentos mais angustiantes, onde a vida parecia que
tinha andado para trás, ilusões e sonhos sem data marcada, encontros onde tudo
tinha uma dimensão maior do que devia de ser, porque tudo era vivido com uma
intensidade acrescida. Ah! Ingénuas que fomos….
19.08.15
Tão giro o carro! :)
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