sexta-feira, 31 de julho de 2015

Ferias de Verão



Férias de Verão,
Gosto do Verão, do calor, do céu azul e o sol a brilhar. Gosto dos dias quentes, grandes, de não ter de olhar para o relógio e contabilizar o tempo, de mudar por completo a rotina, das roupas leves, de cores claras e de não esticar o cabelo.
Recordo o Verão da minha meninice, em Santas Cruz na casa das tias, na Madalena do Mar na casa do Passo, em Porto Santo e em casa dos meus pais no Funchal.
Lembro-me daqueles dias intermináveis, onde andava pela casa de quarto em quarto, a vestir roupas das minhas irmãs e a olhar-me ao espelho, a ler, a ler muito, a ouvir musica, a musica também dos meus irmãos, a andar de bicicleta no quintal, a brincar com a minha amiga de infância (vizinha de porta), a brincar com os amigos do meu irmão (só rapazes), a fazer as “voltinhas“ que a minha mãe pedia (ir à mercearia acima de casa, à barraca e à casa da costureira) e de ir a pé à biblioteca da Gulbenkian requisitar mais um livro.
Gosto das férias que tenho vindo a fazer de há uns anos para cá, em Porto Santo, sem rotinas. Gosto de acordar apenas quando o corpo pedir, fazer a caminhada na praia, comprar o pão, regressar a casa e pequeno almoçar, sem pressas, sem pressões, sem computadores e sem gadgets. Voltar à praia pelas 16h/17h e por lá ficar a banhos até o dia findar e o sol desaparecer por completo. Adoro sentir os últimos raios de sol (mornos) penetrar na pele, e acariciar a areia fina entre as mãos, deixá-la escorrer pelos dedos e o resto o vento levar…
Gosto do vento, da pequena brisa do final de tarde, de estar de livro aberto ou de simplesmente ficar de olhos fechados, sonhando que o mundo termina ali, naquele silêncio infinito, apenas o barulho das ondas a romper na areia já fria e molhada.
Gosto de jantar tarde, coisas simples, frescas, saladas e pratos leves acompanhadas de um bom copo de vinho branco bem fresco. Ir à vila, fazer a rota do costume, comer uma “lambeca”, sentada no muro, vendo a gente passar, descontraidamente de chinela no dedo, calções, vestidos leves, roupa de praia, cabelos soltos e secos ao natural, tudo no seu modo mais informal, porque estamos em férias e férias são descanso, são o romper com tudo aquilo que vinha sendo hábito.
Gosto do passeio nocturno ao cais e de ficar lá bem na ponta e de olhar a ilha como se em alto mar estivesse. Gosto de olhar aquela gente de pele bastante tisnada, de olhos claros, dentes amarelados e de ouvir o falar cantado e melódico dos Porto-Santenses.
Gosto de comprar os tomates pequenos e bem maduros, os figos, as uvas e a melancia. Até gosto daquela pasmaceira, daquele marasmo que nos contagia e nos deixa sem vontade de nada fazer, de ficar para ali jogada, observando os veraneantes, encontrando amigos de longa data, aqueles que não víamos há muito, que vivem em Lisboa, outros fora de Portugal, cumprimentando, fazendo “conversa de verão”, (por aqui novamente, os pequenos estão crescidos, um já na Faculdade, outro a caminho, os pais velhinhos mas ainda vivos, as memórias, as lembranças, ai tudo como era…)
Até gosto de ir todos os dias ao supermercado e vir a pé com os sacos pelas mãos, há sempre qualquer coisa que falta lá em casa para além do pão fresco.
Gosto de entrar na Igreja da vila, quando ela está vazia, quando não tem muita gente e ficar um pouco lá sentada, e pensar e meditar ou simplesmente ficar a olhar e a sentir o silêncio e escutar o barulho na rua das crianças, dos adolescentes excitados com as primeiras saídas sem os pais por perto.
Ali tudo acontece, tudo acontece às vezes pela primeira vez, inesperadamente.
E…inesperadamente tudo ali fica, enterrado na areia, num verão que passou, porque foi de uma estação que findou, porque o calor apertava, o mar era quente, as noites cálidas e a lua bem alta vigiava os nossos sonhos e as nossas fantasias.

31-07-15




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