Férias de Verão,
Gosto do Verão,
do calor, do céu azul e o sol a brilhar. Gosto dos dias quentes, grandes, de
não ter de olhar para o relógio e contabilizar o tempo, de mudar por completo a
rotina, das roupas leves, de cores claras e de não esticar o cabelo.
Recordo o Verão
da minha meninice, em Santas Cruz na casa das tias, na Madalena do Mar na casa
do Passo, em Porto Santo e em casa dos meus pais no Funchal.
Lembro-me
daqueles dias intermináveis, onde andava pela casa de quarto em quarto, a
vestir roupas das minhas irmãs e a olhar-me ao espelho, a ler, a ler muito, a
ouvir musica, a musica também dos meus irmãos, a andar de bicicleta no quintal,
a brincar com a minha amiga de infância (vizinha de porta), a brincar com os
amigos do meu irmão (só rapazes), a fazer as “voltinhas“ que a minha mãe pedia
(ir à mercearia acima de casa, à barraca e à casa da costureira) e de ir a pé à
biblioteca da Gulbenkian requisitar mais um livro.
Gosto das férias
que tenho vindo a fazer de há uns anos para cá, em Porto Santo, sem rotinas.
Gosto de acordar apenas quando o corpo pedir, fazer a caminhada na praia,
comprar o pão, regressar a casa e pequeno
almoçar, sem pressas, sem pressões, sem computadores e sem gadgets. Voltar
à praia pelas 16h/17h e por lá ficar a banhos até o dia findar e o sol
desaparecer por completo. Adoro sentir os últimos raios de sol (mornos)
penetrar na pele, e acariciar a areia fina entre as mãos, deixá-la escorrer
pelos dedos e o resto o vento levar…
Gosto do vento,
da pequena brisa do final de tarde, de estar de livro aberto ou de simplesmente
ficar de olhos fechados, sonhando que o mundo termina ali, naquele silêncio
infinito, apenas o barulho das ondas a romper na areia já fria e molhada.
Gosto de jantar
tarde, coisas simples, frescas, saladas e pratos leves acompanhadas de um bom
copo de vinho branco bem fresco. Ir à vila, fazer a rota do costume, comer uma
“lambeca”, sentada no muro, vendo a gente passar, descontraidamente de chinela
no dedo, calções, vestidos leves, roupa de praia, cabelos soltos e secos ao
natural, tudo no seu modo mais informal, porque estamos em férias e férias são
descanso, são o romper com tudo aquilo que vinha sendo hábito.
Gosto do passeio nocturno ao cais e de ficar lá bem na ponta e de olhar a ilha como se em alto mar
estivesse. Gosto de olhar aquela gente de pele bastante tisnada, de olhos
claros, dentes amarelados e de ouvir o falar cantado e melódico dos
Porto-Santenses.
Gosto de comprar
os tomates pequenos e bem maduros, os figos, as uvas e a melancia. Até gosto
daquela pasmaceira, daquele marasmo que nos contagia e nos deixa sem vontade de
nada fazer, de ficar para ali jogada, observando os veraneantes, encontrando
amigos de longa data, aqueles que não víamos há muito, que vivem em Lisboa,
outros fora de Portugal, cumprimentando, fazendo “conversa de verão”, (por aqui
novamente, os pequenos estão crescidos, um já na Faculdade, outro a caminho, os
pais velhinhos mas ainda vivos, as memórias, as lembranças, ai tudo como era…)
Até gosto de ir
todos os dias ao supermercado e vir a pé com os sacos pelas mãos, há sempre
qualquer coisa que falta lá em casa para além do pão fresco.
Gosto de entrar
na Igreja da vila, quando ela está vazia, quando não tem muita gente e ficar um
pouco lá sentada, e pensar e meditar ou simplesmente ficar a olhar e a sentir o
silêncio e escutar o barulho na rua das crianças, dos adolescentes excitados com
as primeiras saídas sem os pais por perto.
Ali tudo
acontece, tudo acontece às vezes pela primeira vez, inesperadamente.
E…inesperadamente
tudo ali fica, enterrado na areia, num verão que passou, porque foi de uma
estação que findou, porque o calor apertava, o mar era quente, as noites
cálidas e a lua bem alta vigiava os nossos sonhos e as nossas fantasias.
31-07-15
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